Tirinhas de Filosofia
Quadrinhos, textos e vídeos de filosofia. Por Caetano Cury.
sábado, 22 de maio de 2021
Tirinha - Dark Side of the Moon
Esta tirinha recebeu menção honrosa no 40º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 2013.
Á época, a revista Revide, de Ribeirão Preto, destacou o fato:
O cartunista e jornalista ribeirãopretano, Caetano Cury Nardi, recebeu menção honrosa na categoria “tiras”, durante a abertura do 40º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, que aconteceu no último sábado, dia 24 de agosto.
Cury participa da mostra há seis anos e todos os seus trabalhos enviados foram selecionados. No entanto, é a primeira vez que o cartunista é contemplado com uma menção honrosa, pelo cartum em que homenageia o disco “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd. O ribeirãopretano diz que receber o trofeu foi uma surpresa, pois o seu cartum não trata de humor e sim de amor, atribui, ainda, à simbologia do trabalho a menção recebida. “São 40 anos do evento, 40 anos do ‘Dark Side of the Moon’. Meu pai me ensinou a gostar desse disco e isso, sem querer, me trouxe visibilidade. Uma tirinha sem pretensão de ganhar nada, feita com a alma. Fiquei surpreso”, revela.
A tira de Caetano Cury, contemplada com a menção honrosa, concorre ainda, ao lado de mais 13 trabalhos, ao prêmio de Júri Popular. O trabalho inscrito está em primeiro lugar na votação. “Até agora está disparada na frente. A mobilização tem sido grande”, comemora Cury. Para votar, CLIQUE AQUI
A mostra competitiva, considerada a maior exposição do gênero já realizada desde a década de 1970, reuniu mais 400 trabalhos entre cartuns, caricaturas, charges e tiras. O Salão, realizado pela Secretaria da Ação Cultural e pelo Centro Nacional de Humor Gráfico (CEDHU Piracicaba), teve trabalhos de 966 artistas de 64 países enviados para exposição competitiva. Ao todo foram 4.180 trabalhos enviados. A curadoria selecionou 442 obras, a maior da história – segundo a organização do evento -, sendo 142 cartuns, 97 caricaturas, 74 charges, 73 tiras/HQs e 53 com o tema futebol.
Revide on-line
Texto: Bruno Silva
https://www.revide.com.br/editorias/gerais/rp-no-salao-internacional-de-humor/
sábado, 29 de setembro de 2018
Bolsonaro e a autoverdade - Eliane Brum
Nas palavras dela:
"Embora o conteúdo do que Bolsonaro diz obviamente influencia no apoio do seu eleitorado, me parece que ele é mais beneficiado pelo fenômeno que aqui estou chamando de autoverdade. O ato de dizer “tudo” e o como diz o que diz parece ser mais importante do que o conteúdo. A estética é decodificada como ética. Ou colocada no mesmo lugar. E este não é um dado qualquer. Por isso também é possível se desconectar do conteúdo real de suas falas, como fazem tantos de seus eleitores. E por isso é tão difícil que a sua desconstrução, por meio do conteúdo, tenha efeito sobre os seus eleitores. Quando a imprensa mostra que Bolsonaro se revelou um deputado medíocre, que ganhou seu salário e benefícios fazendo quase nada no Congresso, quando mostra que ele nada tem de novo, mas sim é um político tão tradicional como outros ou até mais tradicional do que muitos, quando mostra que falta consistência no seu discurso, assim como projeto que justifique seu pleito à presidência, há pouco ou nenhum efeito sobre os seus eleitores. Porque o conteúdo pouco importa. As agências de checagem são um bom instrumento para combater as notícias e as declarações falsas de candidatos, mas têm pouca eficácia para combater a autoverdade."Leia o texto completo aqui.
E o PT?
A opinião de Eliane Brum, aqui direcionada para o universo bolsonariano, também pode ser aplicada sobre a parcela de eleitores do PT que questionam a prisão de Lula e acusam o judiciário de um complô contra o ex-presidente. Negar a legitimidade das decisões judiciais de três instâncias não seria um modo de impor sua autoverdade? (Embora os petistas tenham razão em questionar porque o processo de Lula andou mais rápido do que investigações contra Aécio, Serra, Alckmin, Jucá, Moreira Franco, Temer, etc. - a lista é longa.)Tirinha sobre o impeachment
Podemos encontrar a autoverdade de Eliane Brum em uma tirinha de 2015, feita por Caetano Cury, do site Téo & O Mini Mundo - Tirinhas de Filosofia. É uma história em quadrinhos que satiriza os brasileiros que comemoravam que o governo de Dilma Rousseff ia mal. Era a turma do "quanto pior, melhor". De que lado você estava nesta época?terça-feira, 25 de setembro de 2018
Do Contrato Social, Jean Jacques Rousseau - Vontade Geral - Capítulos VI, VII e VIII - Livro I
O inglês Thomas Hobbes sugere um estado que garanta a segurança do povo, que evite uma “guerra de todos contra todos” (2006). Já o pensador suíço Jean-Jacques Rousseau propõe o contrato social, um acordo em que todos abrem mão de suas liberdades individuais em troca de uma liberdade coletiva. Diferente de Hobbes, que defende um estado absolutista, Rousseau apresenta um modelo democrático de governo.
Na visão de Rousseau, o homem no estado de sociedade é obrigado a ser livre. Parece um paradoxo. Mas é ao limitar as liberdades individuais que se chega ao equilíbrio social. Ele busca:
"Achar uma forma de sociedade que defenda e proteja com toda força comum a pessoa e os bens de cada sócio, e pela qual, unindo-se cada um a todos, não obedeça todavia senão a si mesmo e fique tão livre como antes". (Rousseau, 2011, p.25)
Pelo contrato social, a soma de todos os indivíduos resulta no conceito de um único corpo: o soberano, norteado por uma vontade geral. Por meio do exercício da democracia direta, a vontade geral é codificada na forma de leis. A liberdade se conquista ao cumprir as regras definidas pela vontade geral. Se as leis não forem respeitadas e cada um voltar a agir como selvagens, a sociedade sucumbe.
"Do Contrato Social" foi escrito em 1762, contra os abusos e injustiças da época. As ideias organizadas por Rousseau inspiraram não só a Revolução Francesa mas servem como alicerce para as democracias que surgiram dali em diante. A Constituição brasileira de 1988, logo em seu primeiro artigo já define que "todo o poder emana do povo" e o fundamento número um da República Federativa do Brasil é a soberania.
A soberania é representada por pessoas eleitas pelo povo. Em tese, os representantes devem executar a vontade geral. Mas Rousseau deixa claro que vontade geral não significa unanimidade. Em seu contrato social, as vontades individuais são respeitadas, desde que não afrontem as decisões soberanas. Por isso, para o bem de todos, quem não obedecer à vontade geral, deverá ser punido.
Mas quando a punição é frouxa, as vontades individuais atropelam a vontade geral. Por exemplo, no Brasil, políticos visam quase sempre o interesse próprio. Aprovam projetos que contrariam os anseios da nação. Em vez de valorizar professores, sucateiam a educação. Em vez de proteger a natureza, liberam o agrotóxico. No lugar de equipar hospitais, desviam dinheiro.
A impunidade sabota a vontade geral. Se não sou punido, faço prevalecer minha vontade individual. A corrupção triunfa. A violência prospera. A barbárie se estabelece e retornamos à selvageria. Temos então a guerra de todos contra todos de Hobbes. Amedrontada, a população clamará por um salvador. E entregará sua vontade geral a um governo absolutista, sem perceber.
Vivemos em sociedade, mas o estado natural ainda habita em cada ser. Por isso, mecanismos de controle das liberdades individuais precisam beirar a perfeição. Caso contrário, a democracia de Rousseau parecerá uma utopia.
Referências:
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira).
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2006.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: Ed. Martin Claret, 2011. Título original francês: Du Contrat Social (1762)
Mais tirinhas de filosofia como essa no site Téo & O Mini Mundo.
segunda-feira, 30 de julho de 2018
Uma Investigação Sobre o Entendimento Humano - David Hume - Da Liberdade e Necessidade
O autor procura mostrar que, assim como existe uma interdependência na interação entre objetos materiais (o movimento advém de uma força, por exemplo), também há causas que impulsionam as ações humanas e que tais relações obedecem a um certo padrão, em maior ou menor grau. Ele sugere que, se a mente humana tem a capacidade de deduzir os fenômenos da natureza, baseado em experiências anteriores, o homem também pode perceber uma determinada previsibilidade em relação ao próprio comportamento:
Quer conhecer os sentimentos, inclinações e modo de vida dos gregos e romanos? Estude bem o temperamento e as ações dos franceses e ingleses; você não pode estar muito enganado ao transferir para os primeiros a maioria das observações que fez sobre os segundos. A humanidade é tão semelhante em todas as épocas e lugares que a história não nos revela nada novo ou estranho nesse aspecto. (HUME, 1999, p. 379)
Além do comportamento, as relações sociais também são uniformes, segundo o empirista. Ele cita como exemplo um artesão que espera proteção da lei para poder trabalhar e também acredita que seu produto será vendido para outras pessoas. Esta expectativa é baseada em experiências acumuladas, em hábitos. Todos os artesãos esperam o mesmo. E como as ações do homem são de certo modo padronizadas, tomamos decisões a partir desta conclusão, assim como um presidiário procura fugir quebrando as pedras da prisão em vez de tentar convencer um carcereiro a libertá-lo. Neste exemplo de Hume, o preso deduz, com base em experiências passadas, que a natureza do agente penitenciário é irredutível. Outro exemplo do autor se passa em um movimentado cruzamento de Londres: “Um homem que ao meio-dia deixe sua bolsa recheada de ouro na calçada de Charing Cross pode tão bem esperar que ela voará para longe como uma pena como que a encontrará intacta uma hora mais tarde.” (HUME, 1999)
A conclusão de que a bolsa não ficará intacta, segundo Hume, é explicada por aquilo que ele chama de causalidade, uma faculdade da mente, uma inferência mental. Se inferimos que a bolsa não vai sair voando, também inferimos que o ouro será saqueado. No entanto, segundo o autor, a humanidade tem maior propensão para perceber a relação de causa e efeito na natureza do que nos processos da mente. Para Hume, as pessoas concluem que a mente funciona de modo diferente das relações entre os objetos e que seus efeitos provêm do pensamento e da inteligência, o que podemos interpretar como livre arbítrio.
Mas, logo que nos convencermos de que tudo o que sabemos acerca de qualquer tipo de causação é simplesmente a conjunção constante de objetos e a consequente inferência de um ao outro realizada pela mente, e descobrirmos que todos admitem universalmente que essas duas condições ocorrem nas ações voluntárias, reconheceremos talvez mais facilmente que essa mesma necessidade é comum a todas as causas. (HUME, 1999, p. 387)
Se não houver conjunção entre os objetos teríamos o acaso. Mas o acaso, destaca o autor, se bem observarmos, não existe na natureza. Segundo Hume, liberdade oposta à necessidade seria o mesmo que o acaso. Assim temos uma crítica à doutrina do livre arbítrio. Se todas as coisas têm uma causa, o livre arbítrio, fruto do acaso, não pode existir. Deste modo, todas as ações humanas são vinculadas a alguma causa ou necessidade, portanto o homem não é livre para agir.
Por fim, neste seu “projeto de reconciliação” da liberdade com a necessidade, Hume antecipa possíveis críticas que suas ideias possam receber. Ele preocupa-se em dizer que sua doutrina é consistente com a religião e a moral e também reconhece que sua reflexão é restrita para a análise dos objetos da vida cotidiana. Logo, é inacessível ao pensamento humano compreender como liberdade e necessidade se processam nas ações de Deus.
Referências:
HUME, D. An Enquiry Concerning Human Understanding. Edited by Tom L. Beauchamp. Oxford: Oxford University, 1999. In: MARÇAL, Jairo (org.). Antologia de Textos Filosóficos. Curitiba: SEED–PR, 2009.